sexta-feira, novembro 22, 2013

Caronas & Pessoas

Estive pensando 24h por dia em viagem, aventuras e liberdade. Ok, sempre penso nisso, mas enfim. Este post em Janelas Abertas em especial me fez pensar profundamente sobre caronas, pessoas e perigos.

Confesso que meu interior acostumado à uma sociedade onde tudo é (é?) perigoso acaba separando dois personagens dentro de mim. Um que viveu e outro que só imagina. O que só imagina, no conforto de casa e do computador chega a pensar "Nossa, mas tem que ter coragem pra pegar caronas assim. Sei lá, estranhos né." e talvez até se convença de que jamais faria isso. Mas vem o que viveu para contar, dá um tapa na cara do cabeça-nas-nuvens e se posiciona. Tudo que a gente imagina antes de uma viagem é pura fantasia. E é uma etapa deliciosa e combustível para se manter entusiasmado. Eu acho importante saber exatamente o que esperar, dependendo qual for o propósito e situação (mas isso é assunto para outro post), mas sempre vai existir um pouco de fantasia na antecipação. Que ela seja positiva:

"Por favor: acreditem menos na mídia. O mundo não é tão perigoso quanto a gente pensa que é”. - Aline Campbell.

Faço dessas palavras as minhas. Em 2010/11 eu morei por quatro meses na California, em Lake Tahoe. E fiquei um tanto surpresa quando meu próprio chefe (era Work Experience, então trabalhei) disse que poderíamos pegar caronas na cidade, caso o ônibus atrasasse ou algo assim. Que era comum ali. Afinal, eu moro no Rio de Janeiro, qualquer um desaconselha caronas em grandes cidades. Mas eu tive sorte de estar no lado da California de Lake Tahoe, pois na parte Nevada dele é proibido pedir e dar carona. É claro que pode ser perigoso, mas como a própria Aline Campbell disse, você sente quando alguém tem intenções tortas. No meu caso em Tahoe, com neve a estrada pode ficar escorregadia as vezes ou se tiver uma tempestade, então o ônibus atrasava demais muitas vezes. Mas trabalho é trabalho. Então dedo pro lado e go.

Já vi gente falar que é questão de sorte, mas eu acredito mais em atração, boa energia gerando boa energia. Se eu estou segura de mim, feliz (apesar dos muitos graus abaixo de zero) e com boas expectativas, até hoje não falhou: o mesmo vem.

Em uma dessas aventuras uma garota da minha idade mais ou menos disse que ela adora dar caronas porque imagina-se no lugar pedindo, coisa que faz muito também. É uma troca. Entre as situações mais engraçadas que vivi nisso foram a motorista e sua amiga usando chapéuzinho de orelha de gato (de pelinho mesmo), rindo com a música que tocava animada e falando alto  animadas. Ou uma um pouco tensa, mas no fundo tocante foi um senhor que estava ouvindo suas músicas e quando uma em especial tocou ele lembrou de sua esposa falecida. Começou a falar dela e a chorar. Aí cheguei a conclusão que algumas pessoas as vezes apenas queiram uma companhia, alguém para ouvir. Talvez a esposa fosse a única na vida dele, talvez fez bem a ele desabafar. Outra situação foi quando estava voltando do trabalho, mas estava nevando muito e era alta temporada, então: engarrafamento. E o ônibus demoraria horas e mais horas para chegar, então fomos andando eu e minha amiga pela estrada pedindo carona, já que tudo estava parado, era mais fácil irmos até eles. E um carro nos acolheu: um pai e seus filhos. O menor chegou a mostrar seus brinquedos e etc e foi um momento bem familiar, apesar da demora. Demora quentinha, pelo menos. Se um pai com filhos pode confiar em um estranho, porque eu não posso? Em outra situação acabei ganhando convite para participar de um evento com snowboarders. Em uma eu estava tão cansada que dormi o caminho todo até o trabalho, eram duas mexicanas que trabalhavam no mesmo Resort. "Dormir em carro estranho, que perigo!". Ué, se fossem fazer algo comigo, dormindo ou não... de novo, você sente quando está segura. E já até peguei duas vezes com a mesma pessoa, um mexicano MUITO simpático. Apesar do inglês dele ser tão precário quanto meu espanhol, nos viramos nos 30. E eu não o esquecerei. Nem muitos outros que me abriram as portas. É gostoso conhecer a individualidade de alguns, ou ir quietinho compartilhando música... etc.

Eu morava em uma rua bem íngrime (Ridgewood Highlands, o nome diz tudo), e uns, sem a menor obrigação, me levavam até em casa. Uns não conseguiam por causa da neve muito alta ou rua escorregadia, mas tentavam incansavelmente.

Algumas vezes o motorista avisava que só poderia ir até um certo ponto. E que bom, pois numa dessas situações eu parei exatamente em uma curva da estrada que eu sempre achei linda, mas nunca tive a chance de parar. Foi o momento perfeito, para a foto perfeita:


Então pessoas podem até não acreditar na humanidade e ter a ousadia de falar que pessoas em um geral são detestáveis (fale por você), mas eu não acredito nisso. E faria tudo de novo. Se um dia der errado, tudo bem, mas se eu quero ser livre, eu preciso me livrar de pensamentos pequenos, não quero viver dentro de um jornal sangrento. Acredite. ♥


3 ♥