sábado, junho 11, 2016

Hey! Para esse avião, me deixa descer!


Foto por Evelyn Gómez

Em 2009 quando fui embora da Irlanda (depois de um curto, mas inesquecível intercâmbio) tive minha primeira volta para casa marcante. Eu lembro vivamente de casa sensação. E a história se repete. 2 de junho de 2016, meus amigos me levaram no aeroporto em Bariloche. Amigos muito queridos, amigos que passei a maioria do meu tempo junto. Sem falar que me ajudaram a arrumar mala até as 4am, quando eu já queria jogar tudo no lixo e não ter mais que arrumar. Gracias mil. 

Despachei malas e fomos tomar café, tirar foto e rir sobre tudo como sempre. Eu sinto e admito que andei em modo negação o dia inteiro. Agindo como se fosse um dia comum. Coisas que a mente faz. Mas chegou a hora (esperei até o último segundo, por pouco não fico, acho) e os abracei, inclusive uma amiga que foi uma das pessoas que mais mudou minha vida enquanto estive nesse lugar. O bom da vida é fazer melhores amigos. A abracei bem apertado e demorado. Porque se você tem que ir, que não deixe nada para trás. E abraços sinceros são uma das memórias mais importantes da vida. Pra mim pelo menos.

De alguma maneira eu estava... flutuando. Eu tive um mês para ir embora, mas mesmo assim foi de repente. Entre "te quiero" e "no quiero ir" eu não conseguia engolir que não ia entrar no avião pra visitar o Rio e depois voltar. Fui, sem vontade, deixando meu corpo andar no automático, mas reconfortada ao ver que eles estavam esperando eu entrar até o final. Até onde não poderíamos mais nos olhar. Enquanto a segurança do aeroporto revisava minhas coisas eu me sentia acompanhada, como se eles tivessem literalmente ali comigo. O efeito quentinho dos abraços ainda estava em mim. 

E finalmente estava eu no avião, com dois lugares vazios ao meu lado, o que seria um sinônimo de felicidade por poder deitar. Mas eu grudei na janela mesmo. Depois de me ajeitar, colocar o cinto e etc, peguei a câmera e comecei a olhar as fotos que tiramos no aeroporto. Começou a bater um sentimento de "wait a minute...". Bem que estava estranhando minha aparente calma. E quando senti o avião mexer e vi que já estávamos no meio da pista e eu podia ver as janelas (essas da foto no topo) vazias, tenho algo a dizer: big girls cry.

É que dessa vez a ficha caiu dentro do avião. Como é possível você saber e ainda assim não ter noção? Imagine-me grudada com a testa na janela e querendo falar pro piloto voltar que eu ia descer. Ele voltaria, eu desceria e sairia correndo atrás deles falando "heeeey, esperaaame!" e pronto! Eu iria embora de novo uns 8 meses depois, sem pressa. Que lindo filme! Agora volta pra realidade, Alexandra, sua louca. Olhei as cordilheiras com neve (abaixo), tirei umas fotos só pra depois não ter, mas meio sem vontade e fui voar pensando. Percebendo que você se apega muito mais que imagina.



"I'll come back when you call me. No need to say goodbye"

Sorte que vivemos no mundo virtual. Consegui me comunicar todo o caminho (fora dos aviões) e todas as esperas eternas de conexões. É aquele sentimento de estar perto mesmo estando longe. Especialmente quando você fala com pessoas que estiveram com você e te entendem. A gente se convence que não é nada demais, espera que a distância não dure muito tempo, mas no fundo a gente não sabe de nada. E isso faz o coração sentir apertos. Faz parte.

Mas posso afimar: fiz amigos maravilhosos. Uma outra amiga saiu correndo de seu trabalho e mesmo do outro lado da cidade quase foi me ver. Chegou com tempo apenas para dar um abraço e se despedir, mas foi. Isso me fez pensar: eu faria o mesmo por algum amigo? Depois disso tenho certeza que sim. Exemplos ensinam. Quanto amor! Acho que serei "obrigada" a fazer um post só sobre aeroporto e amigos. Que me aguentem falando de Bariloche, Argentina, Aeroportos... pro resto da vida. Viajo desde que me conheço por gente e pra me entender, cuidar e lembrar eu escrevo.

Enfim, toda a viagem foi extremamente cansativa emocional e fisicamente (ir de Bariloche para o Brasil geralmente é muito demorado pelas mil conexões). Mal dormi, passei a madrugada toda no aeroporto de São Paulo acordada com duas amigas me fazendo companhia virtualmente (uma em Bariloche e outra na própria São Paulo). E digamos que dormi como uma pedra no último vôo, perdendo decolagem (foi tipo sentar, me jogar no travesseiro e dormir, literalmente), lanche e aterrissagem. Amo voar, mas esse dia tava demais! Chegando meio zumbi e flutuando outra vez, abracei minha mãe e minha tia que foram me buscar, meu pai em casa e fui dormir até 2050. O sentimento de estar politicamente feliz, mas na verdade cansada demais pra querer qualquer contato humano foi bem difícil de aturar.

Processo de ir embora:
Para resumir voltei ao Rio de Janeiro depois de 1 ano e 9 meses (e 2 dias) morando na linda Patagonia Argentina, em Bariloche mais especificamente. Quando meu pai comprou minha passagem e perguntou várias vezes "tem certeza?", eu respondi sim pensando "não" o tempo todo. E no efeito sentimental dessa volta muitas vezes tenho me perguntado "o que diabos eu fui fazer?". Choro se quero porque guardar faz mal, procuro relatos em blogs (eu poderia indicar uma lista infinita de blogs e posts ma-ra-vi-lho-sos se alguém quiser) de pessoas que passam pelo mesmo e entendam e juro que alivia. Também converso com as pessoas que amo de onde fui embora ou daqui (obrigada aos amigos que valorizam e apoiam com compreensão) e vou descobrindo/lidando com as novas fases disso tudo. Cada dia é uma sensação nova! Mas o importante é clarear a mente e pensar: sempre viajei pra onde quis e quando quis, agora não seria diferente. Vai passar. E logo voltarei para visitar.

Enfim. Quando comprei a passagem e o assunto era tocado entre amigos ou conhecidos eu sempre dizia "falta um mês ainda!", sem perceber que repetia o mesmo quando já faltavam apenas duas semanas, por exemplo. E decidi facilitar (ou me enganar) as coisas para mim fazendo contagem regressiva, olhando coisas do Rio que eu amo, me forçando a empolgar com a volta. Agora quer uma dica? Contagem regressiva e etc não podem abafar o fato de que depois de mais de 1 ano (e até menos) você criou uma VIDA em um lugar. É um big deal! Vão ter sentimentos bons e ruins, muito provavelmente. Sinta-os. E isso de maneira alguma significa não amar o lugar que você vai ou as pessoas que lá estarão. Mas você os terá por muito tempo, o choro é pelo que você deixa sem data definida.

No fim das contas como sentimos, reagimos e etc é pessoal. E importante. Tanto pra quem vai como pra quem fica. Ficar não é nada fácil também. Já estive em ambas posições. E nem todo mundo precisa sentir-se momentaneamente triste por ir embora. Cada um com sua história de vida. E isso deve ser respeitado acima de tudo.

O bom de tudo é saber que não estamos sozinhos e que outras pessoas se identificam. Assim podemos trocar experiências, dicas e muito carinho!

"Eu aceito a grande aventura de ser eu" Simone de Beauvoir 

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